Com sua história de superação, Luís Inácio da Silva saiu do sertão nordestino e chegou à Presidência da República. Isso já daria um filme, não é? E deu. Mas esse não é exatamente o roteiro de Lula – O Filho do Brasil (Idem, 2009) de Fábio Barreto. Esqueça a política. Aqui apenas uma parte de sua história será recriada. Com algumas resoluções dramáticas, é um filme simples sem chegar a ser simplório. Sem sofisticação, é um drama irregular, dotado de bons momentos e belas interpretações, mas principalmente, de fácil absorção e voltado para um público geral.
Vemos o sofrimento de Lula e família ao passar 13 dias e 13 noites num pau de arara do nordeste até Santos. As próprias adversidades de ser engraxate, vender laranjas, estudar em colégio público e se desvencilhar de um pai violento e alcoólatra. Não esqueçamos as perdas, extremamente emocionais. Ao mesmo tempo a morte da primeira mulher (Lurdes/Cléo Pires, nada demais) e do filho, numa gravidez de risco, e a perda do dedo mindinho.
Triste, muito triste. Mas com tantas possibilidades, Fábio Barreto pouco consegue gerar emoção nesses momentos. Sua maior força e seus acertos são outros. E estão centrados na relação entre Lula e sua mãe, Dona Lindu. Mesmo que para isso tenha de fazer com que o resto da família – incluindo seus outros filhos e filhas – entre muda e saia calada.
Os momentos de mais emoção são quando Lula recebe seu diploma de torneiro mecânico, sob os olhares emocionados (e críveis) de Dona Lindu. Em outra cena Lula discursa para uma multidão sem som, onde as pessoas têm de repetir para as outras para que a informação chegue até a última pessoa, sensacional.
Lembrando que a trilha sonora incidental também ajuda a emocionar, assim como as nostálgicas músicas da época, escolhidas a dedo para embalar a trama. Outro ponto interessante surge nas recordações de Dona Lindu, onde a edição faz a foto de Lula quando criança passar para sua foto quando preso, uma ótima transposição de tempo.
Glória Pires por vezes esquece um pouco seu sotaque, mas ainda assim nos entrega uma magnífica Dona Lindu, da primeira à ultima cena em estado de graça, com todas as rugas e cabelos brancos que a dura vida pode lhe proporcionar. Rui Ricardo Diaz estreia bem como o futuro presidente, o qual até a voz – de tão conhecido timbre – consegue evoluir. Contido em alguns momentos, progressivamente se supera cada vez que envelhece mais.
Ao personificar Marisa Letícia, Juliana Baroni faz exatamente o papel que geralmente a primeira dama faz na vida real: o apóia ao acompanhá-lo, e distribui sorrisos, graça e simpatia a granel. Já o bom Milhem Cortaz cai no buraco da caricatura do nordestino-bebum-sem-educação. Péssimo! E o diretor Fabio Barreto também não contribui, com seus closes exageradíssimos enquanto ele balbucia “cadê minha cachaça; filho meu não vai para a escola, não joga bola, filho meu trabaia (sic)!”. E tome porrada nas crianças…
Por tudo que passou nessa vida, Lula foi denominado (como diz o subtítulo) O Filho do Brasil. Mas como na história de Zezé de Camargo & Luciano, onde seu pai foi figura chave, daí o título Os Dois Filhos de Francisco (2005), bem que a história de Lula poderia ter o subtítulo O Filho da Dona Lindu. Suas frases podem até virar bordão, como a mais impactante sobre o atual presidente: teime meu filho, teime que você vai conseguir…
Lula – O Filho do Brasil agrada, mesmo que não conte inteiramente sua história de vida. Apenas raspa por sua fase de militante pelos direitos dos trabalhadores, e de certa forma o despolitiza. Ao fim fica um buraco histórico e político, tentado tapar com a peneira de caracteres que resumem sua história e uma imagem (recente) e real. Mas por conta de sua proposta simples (e em grande parte atingida), bons momentos e interpretações, ainda assim é ok. Ao fim, fotos de época emolduram os créditos finais ao som de Luiz Gonzaga. Como o Lula do filme, seja apolítico ou se despolitize e confira.
INFORMAÇÕES ESPECIAIS
Filmografia selecionada do diretor Fábio Barreto: Luzia Homem (1987), Bela Donna (1998); A Paixão de Jacobina (2002); indicado ao Oscar de filme estrangeiro por O Qu4trilho (1995);
Outras recomendações com o elenco de Lula – O Filho do Brasil: Glória Pires em É Proibido Fumar (2009); Milhem Cortaz em Tropa de Elite (2007); Juliana Baroni em Polaróides Urbanas (2008); Cléo Pires em Meu Nome Não É Johnny (2008);
Fonte: Fetamce