O que é voto identitário e por que você deve se importar com isso?

A política brasileira é ocupada por representantes das elites, que decidem os rumos da vida dos brasileiros, votando projetos que geralmente prejudicam você

O voto identitário nada mais é que votar de acordo com os próprios interesses ou necessidades imediatas do segmento populacional ou comunidade que integra. É votar de acordo com as próprias demandas, levando em consideração as condições práticas de vida e de inserção social.

Porém, no Brasil, a população não tem levado em consideração essas características na hora de escolher em quem votar.

Em nosso país, 54% da povo é negro, mas em termos de representação política, pretos e pardos estão em apenas 17% dos cargos eletivos.

As mulheres compõem 51,5% da fatia populacional, contudo ocupam vergonhosos 13,5% do Senado e 10% da Câmara dos Deputados.

O Brasil também é um país de trabalhadores, onde as Classes C (renda média de 1 a 3 salários), D e E (as duas classes mais pobres, com renda familiar até 1 salário) correspondem a quase 80% da população, sem contar os miseráreis, os 50 milhões que na extrema pobreza. No entanto, os efetivos representantes dos trabalhadores no parlamento nacional não passam de 11%. Quase metade da atual Câmara Federal tem parlamentares com patrimônio superior a R$ 1 milhão.

E se olharmos para outros grupos sociais ainda mais invisibilizados na política, teremos a população LGBTI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexuais), estimada em 20 milhões de pessoas, com apenas um representante dessa diversidade no Congresso Federal: o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ). E os indígenas, estimados em 900 mil no Brasil, mas que não possuem nenhum representante no Congresso.

Por que essa diversidade não se reflete na representação política?

A composição monolítica do poder pode ser resumida na figura de um homem, branco e com 49 anos – idade média dos 513 eleitos na legislatura atual. É um retrato da elite econômica nacional, mas está longe de refletir a diversidade brasileira.

Portanto, o machismo, o racismo, a LGBTIfobia e o preconceito de classe sustentam e são sustentados pelas desigualdades criadas e reificadas ao longo da história.

Para a aristocracia que comanda com mãos de ferro o poder público e se sustenta também através de estratégias simbólicas, como a midiática, o Sistema Político precisa continuar inacessível para as camadas populares e grupos identitários.

Na essência, os conservadores trabalham para conservar as coisas como estão. Isso significa um espaço menor para defesa de temas ligados aos direitos humanos, criminalização da homofobia, ações afirmativas e combate à desigualdade de renda. Noutra via, mantem-se a bolsa empresário, o perdão de dívidas trabalhistas, a expropriação das riquezas naturais pelo agronegócio, genocídio negro e reprodução da miséria.

Exceção à regra, Abdias Nascimento foi o primeiro deputado negro do país, segundo o PDT. Ele assumiu o cargo em 1983, eleito pelo Rio de Janeiro.

O fato é que os trabalhadores não se espelharam na imagem dos trabalhadores. Os negros não se espelham nas imagens dos negros e assim por diante. As massas identitárias votavam nos outros candidatos, em parte por não reconhecer nos semelhantes a sua representação, mas também porque a política ainda reside na base da troca do voto por certos benefícios imediatos e amorais, seja a cesta básica, o emprego temporário ou a dentadura. Muitas vezes, os representantes populares não alcançam grande parte do público, pois não dispõem de máquina partidária forte ou de recursos, já que o sistema político brasileiro ainda é baseado no poderio econômico das campanhas.

O que precisa ficar claro entre mulheres, negros, LGBTI+, trabalhadores, jovens e outros, organizados ou não, é que a política identitária existe para os grupos dominantes, que se mantém unidos e se renovam no poder. Não fazer política cristaliza a opressão e oportuniza a retirada de direitos conquistas, como os previdenciários e trabalhistas, ou a impossibilidade de alcance de grandes demandas.

Nas eleições de 2018, após uma avalanche de golpes contra conquistas sociais e trabalhistas, após um aprofundamento de problemáticas públicas e o retorno de mazelas sociais, como epidemias antes erradicadas, é preciso pensar mais um pouquinho sobre o voto e operar o processo de transformação e direção do mesmo.

Para finalizar, vale lembrar Platão: quem não gosta de política vai ser governado pelos que gostam.

Por Rafael Mesquita – Assessor de Comunicação da Fetamce


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