Seminário na CUT-CE destaca os atuais desafios da luta contra as desigualdades de raça, gênero e classe

Fotos: Marcos Adegas

A Central Única dos Trabalhadores no Ceará (CUT-CE) realizou nesta quinta-feira (25), em parceria com a Federação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal do Estado do Ceará (Fetamce) e a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal (Confetam), o Seminário “A luta antirracista e o enfrentamento à violência contra as mulheres”.

Uma das primeiras atividades presenciais pós pandemia de Covid-19, a atividade aconteceu na sede da central cearense e em pleno Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, calendário dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher, que inclui o Dia da Consciência Negra e considera a dupla vulnerabilidade da mulher negra.

Coordenado pelas secretarias de formação e de combate ao racismo da CUT-CE, o evento contou a participação, como painelistas, de Jucélia Vargas, presidenta da Confetam e representante do Brasil no Comitê de Combate ao Racismo e à Xenofobia da Internacional de Serviços Públicos (ISP), e Ozaneide de Paula, secretária da mulher trabalhadora da Confetam.

Kátia Rogéria, secretária de raça da CUT local, destacou a importância da reorganização da luta pós-pandemia e de inserir os debates desta natureza no movimento sindical, ainda profundamente machista, na sua opinião. A dirigente citou a célebre frase da teórica feminista Angela Davis para destacar a força da batalha que protagonizam: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”.

Em sua fala, Ozaneide de Paula destacou os 21 dias de ativismo e o papel das militantes. “Precisamos eliminar de vez a violência contra a mulher. Hoje está sendo uma atividade histórica, pois as discussões, de elevado teor social e crítico, serão levadas para o movimento sindical no combate à todas as formas de opressão, seja ao povo negro ou às mulheres. Não queremos só palavras, mas também políticas que possam contemplar essas populações”, declarou.

Com foco na formação e preparação do movimento sindical para o combate às desigualdades de raça, gênero e classe, o seminário trouxe a discussão conjuntural dos atuais desafios deste campo de intervenção, considerando, sobretudo, o contexto de crise política, social, econômica e de saúde, agravadas pela pandemia e pelo pandemônio provocado pela gestão Bolsonaro no Governo Federal.

Segundo Jucelia Vargas, a atividade cumpre papel relevante, tendo em vista as estatísticas terríveis contra o povo negro e as mulheres. “É de suma importância discutirmos o papel do Estado na inclusão social dessas populações. Não existe democracia com racismo, machismo e homofobia. É preciso discutir para onde está indo o dinheiro das políticas públicas e cobrar que elas promovam um bem-estar para todos”, declarou Jucelia.

Falando sobre o desafio de trazer temas de tão grande relevância para o centro das discussões com mais força e propósito, Enedina Soares, presidenta da Fetamce e secretária de formação da Central no Ceará, apontou: “Hoje é um momento muito especial. É um debate não só de mulheres e sim de homens que precisam também se apropriar do tema. Nosso foco aqui é dar mais visibilidade ao nosso posicionamento para denunciarmos qualquer tipo de violência contra as mulheres”.

 

Por sua vez, a secretária de Organização e Política Sindical da CUT Brasil e presidenta do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Graça Costa, o seminário ofereceu uma visão crítica sobre o processo de escravização de negros e negras, sequestrados de suas nações para as chamadas colônias imperiais. “Muitas vidas foram dilaceradas, encarceradas e escravizadas. Nós precisamos pedir perdão a toda a população negra e fortalecer mais ainda a luta antirracista no Brasil”, enfatizou.

Já Vilani Olieira, coordenadora geral do Movimento Negro Unificado no Ceará (MNU-CE) e secretaria de Combate ao Racismo da Confetam, os relatos do seminário foram importantes de mulheres que no decorrer de suas vidas romperam barreiras e se empoderarem. “Além de todo o combate ao patriarcado, a representatividade foi um dos pontos altos da discussão. Como é importante denunciarmos o racismo, a violência e as nossas dores. Foram falas inspiradoras, de vidas reais e sofridas, mas que nas lutas conseguiram seus espaços”, lembrou.


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