Dados do Censo Escolar 2015, tabulados pelo ‘Todos Pela Educação’, levam em conta as redes pública e privada
No Ceará, apenas 41,3% dos professores possuem formação adequada nas disciplinas que lecionam no ensino médio. A situação atinge as redes pública e privada e coloca em foco a qualidade da aprendizagem e má qualificação de quem está em sala de aula. Ou seja, dos 18.741 docentes, apenas 7.743 têm credenciamento pedagógico específico.
Em relação ao cenário nacional, o Estado está entre os nove com piores médias, acima de Pernambuco (38,4%); Roraima (37.7%); Goiás (36,9%); Maranhão (35,3%); Tocantins (33,4%); Pará (31,3%); Bahia (28,9%) e Mato Grosso, com 28,8%. As melhores médias são do Amapá, com 76,9% e Distrito Federal, com 74%. O levantamento é do Censo Escolar 2015, organizado pelo Movimento Todos Pela Educação, e também aponta que, nos anos finais do ensino fundamental, a questão é ainda mais grave, com 19,2% com capacitação correta.
Ainda segundo o estudo, a parcela de professores que não têm licenciatura para nenhuma das matérias que leciona é muito alta. No ensino fundamental (EF), chega a 56,2% e no ensino médio, 35,7%. No Brasil, a média nacional é de 45,9% (no EF) e de 53,8% no EM. Em relação aos que dão aulas em mais de uma disciplina e possui qualificação específica para, pelo menos, uma delas, o quadro não difere muito. Nos anos finais do EF é de 24,6% e no EM chega a 22,9%.
Não houve muitos avanços em comparação com 2014, quando 40,1% tinham formação compatível com todas as disciplinas que lecionavam na época. Matérias como Física, Química, Filosofia, Sociologia e Artes estão entre as piores situações. A primeira tem 23,1% dos 2.381 professores da disciplina ou 550 têm licenciatura ou bacharelado com complementação pedagógica na área. Na segunda, dos 1.990 que ensinam Química, 762 possuem esse formação.
Na avaliação do gerente de Conteúdo do Todos Pela Educação, Ricardo Falzeta, o País está “improvisando” e por isso paga um preço muito grande pela situação “caótica” na qual se encontra, principalmente, o ensino médio. “A pressão é grande, a carreira não é valorizada, falta pessoal habilitado, e a escola vai fazendo o que pode. Isso terá impacto terrível na reforma que está por vir”, comenta.
A análise de Falzeta é compartilhada com o especialista em Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Wagner Andriola. Segundo ele, “ninguém faz milagre, em especial, em sala de aula e no ensino do conteúdo para o aluno. Com isso, o conhecimento está sendo repassado de forma rala, sem fundamentação adequada e sem motivar nem quem ensina e quem aprende. Está aí a explicação para o caos em que se encontra a educação no Brasil”, diz.
Déficit histórico
O coordenador de Gestão Pedagógica da Secretaria de Educação do Estado (Seduc), Rogers Mendes, reconhece que esta situação é muito delicada e fruto de um déficit histórico. “O ensino fundamental, até a década de 90, não tinha o entendimento dessa necessidade de professor especialista. Nos anos 2000, as universidades passaram a oferecer licenciatura para alguns cursos. Mas ainda há pouca oferta de professores especialistas em determinadas áreas, como física e química”, justifica.
O coordenador da Seduc também aponta que há uma dificuldade grande de encontrar professores especializados em áreas como Arte e Filosofia. A dificuldade aumenta, sobretudo, quando a lotação é no Interior. “Cidades polos de formação superior têm esses índices elevados. Em Fortaleza, estamos em uma situação melhor, mas se formos para o Interior, municípios menores, o caso se agrava”. Para tentar diminuir os prejuízos, Mendes lembra que o Estado incentiva a formação continuada dos professores e o aumento da demanda de cursos em universidades.
Fonte: Fetamce