O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, afirmou hoje que economias emergentes como Brasil, China e Índia lideram a saída da crise global, mas que estas devem se reorientar para um maior consumo interno.
Em entrevista coletiva em Tóquio, o responsável do FMI disse que a Ásia está marcando o fim da crise econômica mundial, especialmente a China, com números de crescimento semelhantes aos de antes da crise.
Os dados mais recentes do FMI anteciparam em outubro o fim da recessão em 2010 e consolidaram a Ásia como o motor da recuperação de uma economia mundial que crescerá 3,1% este ano, um dado que poderia ser revisto para cima na apresentação no final deste mês de um novo relatório de perspectivas da entidade.
Strauss-Kahn, que esta semana visita Japão e Hong Kong, estimou que as economias emergentes devem se orientar para potencializar a demanda interna, em substituição ao enfoque exportador, e sustentar, assim, seu avanço em um novo contexto econômico.
Segundo ele, o modelo de crescimento da economia global não será o mesmo de antes do “crash” financeiro dos Estados Unidos e sua extensão ao resto do mundo, já que os consumidores americanos deixaram de ser uma peça-chave do desenvolvimento mundial.
De acordo com Strauss-Kahn, muitos acham que o próximo motor mundial serão economias como Brasil, Índia e China, mas isso não será tão fácil, já que os números macroeconômicos não favorecem essa mudança de maneira tão simples.
“As fontes do crescimento da próxima década serão os países emergentes, a economia verde e a tecnologia”, disse Strauss-Kahn, acrescentando que, apesar de tudo, líderes tecnológicos como o Japão e os Estados Unidos não serão deslocados nesta transição.
Os números do relatório Perspectivas Econômicas Mundiais, que a instituição com base em Washington apresentará no final deste mês, poderiam mostrar uma volta da China a ritmos de crescimento anteriores à crise, em grande medida, graças às medidas de estímulo e gasto público.
Para Strauss-Kahn, tanto as economias emergentes quanto as desenvolvidas “estão se recuperando mais rápido” do que inicialmente previsto, mas alertou sobre a fraqueza desta melhora e a possibilidade de falta de liquidez.
O diretor-gerente do FMI disse que é cedo demais para retirar as medidas governamentais, a fim de cimentar a recuperação, e lembrou que “as estratégias de saída” serão a chave para não cair de novo na recessão global, que gerou “altos níveis de dívida”.
Strauss-Kahn aconselhou que os Governos mantenham as medidas de estímulo até que a melhora da demanda interna seja sustentável.
Estas medidas, que na maioria dos casos significaram injeções de liquidez e ajudas ao consumo, representaram uma despesa de cerca de US$ 2 trilhões no mundo todo, após a crise no sistema hipotecário americano, em 2008.
“Se voltarmos a sofrer uma nova baixa do crescimento, então não sei o que podemos fazer em termos de política monetária. Será muito, muito difícil se recuperar”, disse.
O responsável do FMI pediu que os ministros das Finanças e de Economia, e os líderes do Grupo dos Vinte (G20, os países mais ricos e os principais emergentes), que durante este ano se reunirão em Seul (Coreia do Sul), mantenham o consenso adotado em 2009 para sair da crise.
“Uma das lições mais claras que obtivemos foi a necessidade de melhorar a regulação e, sobretudo, a supervisão do sistema financeiro”, disse Strauss-Kahn, acrescentando que não foi feito o suficiente a este respeito.
Além disso, lembrou que ficou evidente que, em um mundo globalizado, é necessário o consenso e um marco comum para fazer frente aos problemas, e reconheceu a necessidade de um novo FMI neste novo cenário.
Fonte: Fetamce