No Brasil, os 6 bilionários mais ricos detêm mesma riqueza que a metade mais pobre de nossa população – cerca de 100 milhões de pessoas.
Hoje, apenas 8 homens têm a mesma riqueza que as 3,6 bilhões de pessoas mais pobres do mundo. O 1% mais rico da população detém uma riqueza maior que os outros 99% juntos.
No Brasil não é diferente. Aqui, os 6 bilionários mais ricos detêm mesma riqueza que a metade mais pobre de nossa população – cerca de 100 milhões de pessoas.
Os números são do relatório “Uma economia para os 99%”, produzido pela Oxfam Internacional, uma confederação de 17 organizações e mais de 3000 parceiros, que atua em mais de 100 países na busca de soluções para o problema da pobreza e da injustiça. A organização destaca que o fosso entre os ricos e o restante da sociedade aumentou.
A desigualdade global não só continua inabalável, como acelerou-se. Desde 2015, o 1% mais rico detinha mais riqueza que o resto do planeta. Ao longo dos próximos 20 anos, 500 pessoas passarão mais de US$ 2,1 trilhões para seus herdeiros – uma soma mais alta que o PIB da Índia, um país que tem 1,2 bilhão de habitantes.
Impressiona o fato da renda dos 10% mais pobres ter aumentado somente cerca de US$ 65 entre 1988 e 2011, enquanto a do 1% mais rico aumentou cerca de US$ 11.800, ou seja, 182 vezes mais.
Ainda usando o levantamento da Oxfam, observamos a informação de que um diretor executivo de qualquer empresa do índice FTSE-100 (com ações representativas da Bolsa de Valores de Londres) ganha o mesmo em um ano que 10.000 pessoas que trabalham em fábricas de vestuário em Bangladesh. Nos Estados Unidos, uma pesquisa recente realizada pelo economista Thomas Pickety revela que, nos últimos 30 anos, a renda dos 50% mais pobres permaneceu inalterada, enquanto a do 1% mais rico aumentou 300%. No Vietnã, o homem mais rico do país ganha mais em um dia do que a pessoa mais pobre ganha em dez anos.
Só nos dois últimos anos, 2015 e 2016, os grandes empresários tiveram lucros super altos. As 10 maiores empresas do mundo obtiveram receita superior a de 180 países juntos.
De acordo com a Oxafam, que lançou uma campanha global para construir um mundo menos desigual, se nada for feito, a desigualdade crescente pode desintegrar nossa sociedade.
Esmagando Trabalhadores
A desigualdade tem um viés devastador sobre o mundo do trabalho em todo o planeta. A exemplo disso, o relatório da Oxfam mostra que o diretor executivo da maior empresa de informática da Índia ganha 416 vezes mais que um funcionário médio da mesma empresa.
Na década de 1980, produtores de cacau (os que estão plantando e colhendo a matéria-prima lá nas fazendas) ficavam com 18% do valor de uma barra de chocolate – atualmente, ficam com apenas 6%.
A regressão é tão grande, que, na maior parte do mundo, inclusive em nosso país, registramos trabalho forçado ou análogo à escravidão. Em casos extremos, este crime pode ser usado para manter os custos corporativos baixos. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 21 milhões de trabalhadores exerçam trabalhos forçados, que geram cerca de US$ 150 bilhões em lucros para empresas anualmente. Todas as maiores empresas de vestuário do mundo têm ligação com fábricas de fiação de algodão na Índia que usam trabalho forçado de meninas, rotineiramente. Os trabalhadores menos remunerados e que trabalham nas condições mais precárias são, predominantemente, mulheres e meninas. Em todas as partes, empresas estão implacavelmente empenhadas em reduzir seus custos com mão de obra – e em garantir que os trabalhadores e fornecedores da sua cadeia de abastecimento fiquem com uma fatia cada vez menor do bolo econômico. Infelizmente, não tem sido diferente em nosso país. De acordo com a Repórter Brasil, de 1995, quando o governo brasileiro reconheceu a existência do trabalho escravo contemporâneo no Brasil, até 2015, foram libertados 49.816 trabalhadores nessa situação, em todos os estados brasileiros, de acordo com dados do Ministério do Trabalho. Porém, o sistema brasileiro de combate à escravidão contemporânea, assim como todas as políticas relacionadas aos direitos fundamentais no país, está ameaçado de sofrer retrocessos. Só em 2015, foram libertados pelo menos 1.111 trabalhadores.
Maximização extrema dos lucros
Em muitas partes do mundo, as empresas estão cada vez mais perseguindo um único objetivo: maximizar os retornos para seus acionistas. Os dados, mais uma vez, escapam a situação. No Reino Unido, 10% dos lucros das empresas foram distribuídos aos seus acionistas em 1970; atualmente, esse percentual é de 70%. Uma inversão completa. Na Índia, o percentual é mais baixo, mas está crescendo rapidamente e, para muitas empresas, supera 50% atualmente.
“O fato é que cada dólar de lucro passado aos acionistas de empresas é um dólar que poderia ter sido usado para garantir uma remuneração mais alta a produtores ou trabalhadores, financiar políticas públicas ou investir em infraestrutura ou inovação” , diz o documento da Oxfam.
Os donos do poder, de fato, não são os políticos, mas grandes empresários, que usam o enorme poder e influência para garantir que possibilitem a continuidade de seus lucros. No Brasil, os casos de corrupção escancaram isso. Só para citar o exemplo mais recente, temos a multinacional brasileira JBS. Talvez a mega empresa dos ultra-ricos irmãos Joesley e Wesley Batista seja a representação mais clara de como os poderes políticos e econômicos se aglutinam na construção de um império financeiro, que se sustentou com financiamentos e deduções de impostos, assim como super-faturamento. Um misto de tudo que a camaradagem que beneficia os ricos pode produzir.
A Oxfam conclui que, diante deste cenário, empresas de menor porte precisam lutar para competir e pessoas comuns acabam pagando mais por produtos e serviços controlados por cartéis, pelo poder monopolista de mega-empresas e por pessoas que mantêm estreitas relações com o governo.
Diante de toda essa situação, sob qualquer ponto de vista, não é exagerado dizer que vivemos na Era dos Super Ricos ou na Era Dourada do capital financeiro.
Os números mais uma vez comprovam. Os 1.810 bilionários (em dólares) incluídos na lista da Forbes de 2016, dos quais 89% são homens, possuem um patrimônio de US$ 6,5 trilhões – a mesma riqueza detida pelos 70% mais pobres da humanidade. A Oxfam indica que um terço do patrimônio dos bilionários do mundo tem origem em riqueza herdada, enquanto 43% podem ser atribuídos ao favorecimento ou nepotismo.
Além disso, novas engrenagens têm fortalecido a manutenção desse status. A indústria altamente sigilosa da gestão da riqueza tem sido extremamente bem-sucedida em aumentar a prosperidade dos super-ricos. A fortuna de Bill Gates aumentou 50%, ou seja, em US$ 25 bilhões, desde que ele deixou a Microsoft, em 2006. Os bilionários multiplicam suas fortunas a uma taxa média de 11% ao ano, desde 2009. Diante de tudo isso, é possível que tenhamos o primeiro trilionário do mundo em 25 anos, de acordo com estimativa da Oxfam.
“Os super-ricos evidenciam claramente a crise da desigualdade. Eles a estão perpetuando ativamente”, conclui o documento.
Conforme a campanha Uma economia para os 99%, é imperativo desenvolver uma economia humana, com vistas a eliminar os problemas que contribuíram para a crise de desigualdade que enfrentamos atualmente. Isso passa por um grande processo de educação e informação da população sobre a desigualdade crescente, de forma a criar espaço para a eleição de governantes compromissados com os 99% da população.
A Oxfam coloca ainda, em seu relatório, que é necessário mensurar o progresso humano com base nas diversas medidas alternativas disponíveis, que devem refletir não apenas a escala da atividade econômica, mas também como a renda e a riqueza são distribuídas. Tudo isso possibilitaria a construção de um mundo melhor na atualidade e para gerações futuras, possibilitando um verdadeiro progresso das nossas sociedades.
Para Enedina Soares, presidente da Fetamce, na avaliação destes dados, mostra-se premente a realização de uma reforma política de caráter popular no país. A mudança precisa entrar na agenda do povo brasileiro, na busca por uma representatividade mais próxima aos interesses da maioria do povo.
“É também necessário enfrentar duramente as causas estruturais dessa desigualdade histórica, que afeta o país desde a época da colonização, feita por exploração e com extrema concentração de terras, assim como sintonizar essa luta às batalhas que se dão em todo o mundo contra a opressão extrema que se constata”, ratifica a dirigente.
Segundo Enedina, ao longo da história mundial valorizou-se demasiadamente “uma elite masculina e o patriarcado”, e a escravidão, inclusive a brasileira, resultou em grandes diferenças econômicas e sociais. “Tudo precisa vir acompanhado de uma base mais sólida para o crescimento sustentável, que passa pela necessidade de acabar com os paraísos fiscais e garantir sistemas tributários que sejam justos com o trabalhador. E, nesta dura conjuntura, tudo passa também pela resistência contra a crescente desvalorização salarial, a perda de poder dos trabalhadores e sindicatos, a evasão e a elisão fiscal”, concluiu a sindicalista.
Fórum lança Campanha
As instituições integrantes do Fórum Nacional pela Redução da Desigualdade Social lançaram em maio de 2015 a campanha nacional “Desigualdade: isso é da sua conta”.
A Campanha pela Redução da Desigualdade Social no Brasil está estruturada em seis eixos: mudar o modelo tributário, preservar e ampliar os direitos sociais, preservar e ampliar políticas públicas de valorização do trabalho, aumentar investimentos públicos em educação, reforçar a função social do Estado e ampliar a democracia e a participação social.
Agora, as entidades desenvolverão estratégias e ações de mobilizações que vão levar para a população a realidade de desigualdade e propostas de superação deste quadro.