Por que a militância sindical precisa ser antirracista, decolonial e interseccional?

As entidades sindicais, entre elas sindicatos, federações, confederações e centrais, são instâncias de representação da classe trabalhadora, não só no plano jurídico institucional nacional, mas também em quase todo o globo. Como organizações representativas dos trabalhadores, estas precisam estar conectadas com todas as demandas destes sujeitos.

Sendo assim, em um país que submeteu a população negra e ameríndia à escravização e à segregação, a militância sindical precisa ser profundamente antirracista, decolonial e interseccional. A seguir, vamos explicar cada uma desta lutas e questionar o processo de consolidação destas demandas dentro do sindicalismo local.

Entendendo os termos e conceitos:

ANTIRRACISTA – Ser antirracista é se colocar contrário ao racismo, é enfrentar o preconceito baseado na ideia da existência de superioridade de raça, é lutar contra as manifestações de ódio, aversão e discriminação que difundem segregação, coação, agressão, intimidação, difamação ou exposição de pessoa ou grupo. Agir de forma antirracista é se envolver no processo de ação afirmativa da população discriminada e desenvolver um movimento de produção de consciência em torno da problemática;

DECOLONIAL – Defender a perspectiva decolonial é romper com a explicação do mundo e das questões coletivas coloniais, ou seja, advindas da Europa e do norte global, que, do passado até hoje, tentam impor ideias e valores que de alguma forma conduziram o mundo à exploração do sul global, seja através da invasão e exploração da América ou pela escravização da população da África. Assim, agir de forma decolonial, é apostar na elaboração de novas cartografias transnacionais. É questionar os referenciais eurocêntricos a partir dos quais o conhecimento no campo das ciências e da luta é produzido, como, por exemplo, o marxismo como teoria singular para a explicação da realidade. Apostar em uma outra abordagem, é compreender inclusive que a exploração capitalista é anterior à ideia de modernidade. Afinal, não haveria capitalismo sem exploração colonial e sem colonização cognitiva;

INTERSECCIONAL – Considerar que a luta é interseccional é entender que há uma sobreposição ou intersecção de identidades sociais e sistemas relacionados de opressão, dominação ou discriminação. Assim, desigualdades baseadas em gênero, raça, classe, capacidade, orientação sexual, religião, casta, idade e outros eixos de identidade interagem em níveis múltiplos e muitas vezes simultâneos de exploração. Este quadro pode ser usado para entender como a injustiça e a desigualdade social sistêmica ocorrem em uma base multidimensional. É considerar que o enfrentamento ao sistema de opressão citado é realizado a partir do “cruzamento” de múltiplas formas de luta.

A ação sindical antirracista, decolonial e interseccional

Noite Negra – Cantar para a Igualdade; evento realizado em 2015 pela Fetamce. Foto: Marcos Adegas

Assim, desenvolver uma ação sindical antirracista, decolonial e interseccional, é construir uma militância trabalhista cada vez mais alinhada à enfoques que denunciem o racismo estrutural, assim como suas conexões e atores. É implementar ações afirmativas. É aprofundar a organização das mobilizações de forma interseccional.

Focalizar a luta antirracista, decolonial, é construir uma práxis insurgente. É dar visibilidade a outras epistemologias.

Um exemplo: junto aos trabalhadores da educação, isso pode ser feito por meio da articulação para a implantação das leis 10.639/03 e 11. 645/08, que obrigam o ensino da história e cultura afrobrasileira, africana e indígena.

Uma militância afirmativa, antirracista, pode potencializar a consciência de trabalhadores, assim como o interesse em conhecer, estudar, desenvolver e lutar principalmente por uma outra forma de organização coletiva, que venha a superar esse modelo opressor capitalista.

Um outro sindicalismo, posicionado nos termos que discutimos aqui, é necessário para denunciar o mito da Democracia Racial no Brasil, um caminho também para combater as outras opressões interseccionais nos tempos e espaços públicos, num cenário mundial e nacional cada vez mais neocapitalista, fascista, de acirramento do machismo, sexismo, da xenofobia e do racismo a níveis alarmantes.


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