O Instituto Millenium, organização nitidamente partidária a favor da proposta neoliberal, divulgou uma suposta pesquisa ontem (10/08) nos principais jornalísticos do país, que foi massivamente explorada no Grupo Globo, parceiros de longa data da organização de direita.
Distorcendo dados, o Millenium concluiu que o Brasil gasta 13,7% do PIB com os salários dos servidores públicos, enquanto os gastos com educação ficam em 6% e saúde em 3,9%. Para os “especialistas” que elaboraram o estudo, os salários de enfermeiros e médicos, por exemplo, não estão nos valores previstos para a saúde. Assim como o salário de um professor universitário não está no valor previsto para a educação.
Ou seja, ao separar a conta final dos salários e benefícios do funcionalismo do orçamento das políticas públicas, o “estudo” manipula as informações sobre o orçamento da União, estados e municípios.
Como alertou o advogado Guilherme Pacheco Monteiro, não há atendimento e tratamento de saúde sem médicos e enfermeiros, assim como não existe ensino sem professores ou segurança pública sem policiais, sejam eles de carreira pública ou terceirizados. “O novo ataque ao serviço público repete a mesma estratégia utilizada para aprovação das reformas Trabalhista e da Previdência, um suposto excesso de gastos que impediria a aplicação de recursos em setores estratégicos. Os anos passam e os efeitos prometidos com a aprovação das propostas nunca apareceram. E nem vão aparecer”, destaca o jurista.
Guilherme aponta que o levantamento é parte da estratégia de apoio ao projeto “Destrava!”. A proposta tem como objetivo acelerar a apresentação e tramitação de uma Reforma Administrativa, que retira direitos dos servidores públicos e diminui a participação do Estado em áreas estratégicas como Saúde e Educação.
Para o advogado, que escreveu sobre o assunto no site Sul 21, o objetivo é continuar a criar uma cortina de fumaça para evitar que o Brasil coloque em prática a taxação das grandes fortunas, medida prevista na Constituição de 1988, ou que efetue um verdadeiro combate à sonegação de impostos no país, que, junto com os juros da Dívida Pública, são os reais sugadores dos recursos públicos.
“No estudo em si, a perplexidade surgiu com a coragem na forma da apresentação (…) A forma como o estudo foi apresentado demonstra que a verdade não é uma premissa para o desdobramento do debate”, finaliza o advogado.
Instituto Millenium é Paulo Guedes, Paulo Guedes é Instituto Millenium
O Instituto Millenium tem entre seus fundadores reconhecidos porta-vozes da agenda neoliberal no Brasil, como os ex-presidentes do Banco Central Armínio Fraga e Gustavo Branco, além do economista Paulo Guedes. Sim, Paulo Guedes, o atual ministro da Economia do Governo ultraliberal e autoritário de Jair Bolsonaro.
Além deles, os grupos RBS (que tem emissoras de TV afiliadas da Rede Globo na Região Sul), Gerdau e Suzano e instituições financeiras como a Porto Seguro e o Bank of America estão na lista de empresas que financiam a instituição.
Em sua carta de “princípios”, o Millenium defende a liberdade do mercado acima de todas as outras, faz apologia ao individualismo e considera que a existência de marginalizados é fruto de infortúnios da vida, peças pregadas pelo destino ou má sorte – omitindo relações com o processo histórico e o contexto social.