Em um mundo dilacerado pela pandemia, quem fatura são os ricos

Enquanto a maioria mais pobre perdeu tudo na pandemia, os bilionários brasileiros amealharam uma fortuna de US$ 176,1 bilhões em 2020, e viram seus ganhos aumentarem 38% na comparação com 2019. Foto: Mídia Ninja

A minoria de bilionários em ascensão no planeta viu aumentar sua fortuna entre fevereiro e março de 2020, enquanto a covid-19 ceifou vidas, empregos e renda e empurrou milhões para a pobreza extrema

Enquanto os mais pobres do mundo terão que esperar mais de uma década para voltar ao nível em que estavam antes da pandemia, as mil pessoas mais ricas recuperaram todas as perdas que tiveram em apenas nove meses. Essa é a conclusão do relatório da ONG Oxfam apresentado no último dia 25 de janeiro na abertura do Fórum Econômico Mundial realizado em Davos, Suíça.

Chamado de O vírus da desigualdade, o documento relata que, se de fevereiro a março de 2020 os mais ricos tiveram uma queda de 30% em suas fortunas, em novembro do mesmo ano a recuperação foi total.

Levantamento do banco suíço UBS e da Price Waterhouse (PwC) registra ainda que o número de bilionários distribuídos no mundo passou de 2.158 no ano de 2017 para 2.189 em 2020. Para a Oxfam, o que chama a atenção não é o aumento do número, mas o fato dele ocorrer em paralelo a uma pandemia que levou milhões para a extrema pobreza.

No ranking dos mais ricos, o líder são os Estados Unidos com bilionários que somam US$ 3,6 trilhões. Na sequência aparecem a China, com US$ 1,68 trilhão acumulado, Alemanha, US$ 594 bilhões e Rússia, US$ 467 bilhões.

Os bilionários brasileiros chegaram a uma fortuna de US$ 176,1 bilhões em 2020. Esse valor é 38% superior aos US$ 127,1 bilhões registrados em 2019.

Segundo a Oxfam, para se ter uma ideia da rapidez da recuperação dos mais ricos, esses levaram cinco anos para reaver o que perderam durante a crise financeira de 2008.

O trabalho da ONG ainda revela que a pandemia da covid-19 tem o potencial de aumentar a desigualdade econômica em quase todos os países ao mesmo tempo. Isso, conforme os analistas da organização, é algo que acontece pela primeira vez desde que as desigualdades começaram a ser medidas há mais de 100 anos.

Mais ricos prosperam

Além dos mais de 2 milhões de pessoas mortas pelo mundo e os empregos e a renda ceifadas de milhões de pessoas que foram empurradas para a pobreza, outro lado cruel do vírus é exposto no documento: os mais ricos, indivíduos e empresas, estão prosperando como nunca.

Para se ter uma ideia, só os dez maiores bilionários do mundo acumularam US$ 540 bilhões no período da pandemia.

No computo global, entre 18 de março e 31 de dezembro de 2020, os bilionários acumularam US$ 3,9 trilhões.

Isso fez suas fortunas chegar a US$ 11,95 trilhões. Esse valor é equivalente ao que os governos do G20 gastaram para enfrentar a covid-19.

Para Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil, “a pandemia escancarou as desigualdades – no Brasil e no mundo. É revoltante ver um pequeno grupo de privilegiados acumular tanto em meio a uma das piores crises globais já ocorridas na história”.

Miséria e fome

A pandemia dificultou a vida da empreendedora queniana Lucia Mildred, mãe de quatro crianças

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A revolta de Katia Maia faz ainda mais sentido ao se saber que os US$ 540 bilhões amealhados pelos dez mais ricos do mundo no período pagaria um programa de vacinação para toda a população mundial e garantiria que nenhuma pessoa fosse empurrada para a pobreza pelos cálculos da Oxfam.

No entanto, além das mortes, o coronavírus deu início à pior crise de empregos em mais de 90 anos. Se a recessão teve fim para os mais ricos, os mais fragilizados continuam sentindo na pele seus estragos.

Além de garantir a renda da família, a vendedora de frutas Sarah, que vive em Kampala, Uganda, passou a cuidar de seis pessoas devido ao isolamento. Quase não sobra tempo para o trabalho

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Pandemia e desigualdades: os super-ricos recuperam perdas em tempo recorde, os mais pobres terão que esperar mais de uma década

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) cerca de meio bilhão de pessoas estão agora vivendo em subempregos ou sem emprego e estão enfrentando miséria e fome.

Na realidade, a pandemia só agravou uma realidade que já era sentida no mundo. Quando o novo vírus chegou, já mais da metade dos trabalhadores dos países de baixa renda viviam na pobreza. No mundo, também 75% dos trabalhadores não tinham acesso a proteções sociais como seguro-desemprego ou auxílio-doença.

O mecanismo

Para a Oxfam, o que possibilitou a recuperação e enriquecimento dos bilionários foram “os enormes pacotes de estímulo fiscal e flexibilização quantitativa dos governos” para os mercados financeiros.

A organização cita exemplos de auxílios econômicos nos mais variados países que acabaram nos bolsos dos mais ricos.

Outro fator importante na recuperação do patrimônio dos bilionários foi a valorização de ações na bolsa. Em setembro de 2020, a Oxfam divulgou que enquanto parte da economia mundial sofria uma queda decorrente da crise sanitária vivida pelo mundo, algumas das maiores corporações do mundo tiveram lucros imensos.

Como a maior parte desses lucros excepcionais devem ser distribuídos na forma de dividendos dessas empresas, a Oxfam estima que cerca de 90% desses recursos será compartilhado entre os acionistas.

O mecanismo que parece complexo no final é simples: o dinheiro injetado no mercado financeiro faz com que a fortuna dos mais ricos aumente ainda mais.

Fonte: Extra Classe


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