Diva Guimarães: a mulher que escancarou o racismo na Flip

Edição homenageou o escritor negro Lima Barreto, que levou o tema racial para a literatura

Alvo de manifestação ano passado pela falta de diversidade, a edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) deste ano fincou no debate sobre o racismo e levou intelectuais negros para o centro do festival. É que a Flip, que terminou ontem (30), homenageou o escritor Lima Barreto que em sua obra levou o tema racial para a literatura a partir da própria experiência.

No primeiro dia de evento, a falta de diversidade na programação oficial na edição passada foi bastante criticada pela ausência de negros. Mas neste ano a participação de escritores negros e da rede de ativistas do movimento negro deu dimensão ao espetáculo. A Flip estava como sempre deveria estar: diversa.

De dentro da Igreja Matriz de Paraty, por exemplo, várias mesas abriram espaço para o debate sobre questões homoafetivas e sobre religiões de matriz africana, como umbanda e candomblé.

Entretanto, o momento mais emocionante da Flip 2017 veio de uma voz embargada da plateia, Dona Diva Guimarães, 77 anos, que contou suas dores, relato histórico fruto de várias experiências que levou o ator Lázaro Ramos às lágrimas.

Com fala forte e impactante, Diva cravou na discriminação racial, coisa com a qual ela convive desde os cinco anos de idade quando foi para um colégio interno. “Trabalhei duro desde os cinco anos, sou neta de negros que foram escravizados e aparentemente a gente teve uma libertação que não existe até hoje”, relatou emocionada sob aplausos.

“Diziam que nós, como negros, éramos preguiçosos, e não é verdade porque esse país vive hoje porque meus antepassados deram condição para todos”, continuou Diva.

“O racismo é para além da pele. O racismo nos adoece, porque é muito difícil a gente se manter emocionalmente, disse em certo momento a escritora mineira Conceição Evaristo, que também participou da Flip.

Neste ano, cerca de 30% dos escritores e escritoras no festival eram negros e negras que levaram a discussão sobre a questão racial e representatividade para toda a programação do evento.

Veja o vídeo

Fonte: CUT Brasil


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