A maioria das paralisações tinha o objetivo de preservar direitos e receber pagamentos atrasados. Esse tipo de greve passou a ser mais comum a partir de 2015, com a piora nos indicadores de emprego
O Sistema de Acompanhamento de Greves (SAG) do Dieese registrou 1.453 paralisações em 2018. Embora o total seja menor do que o número de greves registradas em 2017 (1.566), as paralisações ocorridas no ano passado ainda são muito superiores à média anterior a 2013, quando ocorriam cerca de 500 greves ao ano.
Ao contrário do que ocorria nos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, ambos do PT, cujas principais reivindicações previam a ampliação de direitos e conquistas, a maioria das greves registradas em 2018 (82%) tinha caráter defensivo, ou seja, os trabalhadores tiveram de cruzar os braços para não perder direitos e até mesmo para garantir o recebimento de pagamentos, como salário, férias, 13º ou vale salarial.
Esse movimento defensivo, segundo o Dieese, começou a ocorrer a partir de 2015, com o aumento do desemprego e a queda da renda dos trabalhadores e trabalhadoras.
“Agora a pauta é simples, reduzida e quase somente defensiva”, diz o documento do Dieese.
Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, essa é principal diferença entre os governos do PT e sua política econômica que aliou crescimento sustentável e distribuição de renda e os governos pós-golpe de Estado que aprofundaram a crise econômica e a recessão e, ao mesmo tempo, não elaboraram uma política de recuperação do crescimento. Ao contrário, só apresentam medidas de arrocho previdenciário e trabalhista, de retirada de direitos.
“Eles querem recuperar a economia com uma política recessiva do ponto de vista econômico, retirando direitos do trabalhador e aliviando a barra do patrão”, diz o presidente da CUT.
Segundo Vagner, o crescimento econômico nos governos petistas permitia que os trabalhadores pudessem avançar nas suas pautas. Já a crise e a estagnação, aliadas aos sinais do governo de Jair Bolsonaro (PSL) de que vai arrochar ainda mais a classe trabalhadora, deixa os empresários a vontade para descumprir acordos.
Setor público e privado
Os trabalhadores e trabalhadoras da esfera pública promoveram um número maior de paralisações (791) do que os trabalhadores da esfera privada (655), segundo o levantamento.
“Entre os servidores públicos, a crise fiscal do Estado tem funcionado como incentivo à deflagração de greves”, explica o Dieese no estudo.
No caso do serviço público, das 718 greves nos três níveis administrativos do funcionalismo, os servidores municipais deflagraram 74% das paralisações. A maioria (56%) das greves reivindicava direitos relacionados ao reajuste dos salários e dos pisos salariais.
Já no caso do setor privado, o Dieese registrou 655 paralisações realizadas pelos trabalhadores, sendo que 75% do total correspondiam ao setor de serviços, cuja terceirização e a precarização da contratação são maiores.
Entre as pautas de reivindicação, a exigência de pagamentos atrasados correspondeu 58% das greves deflagradas. Pautas relativas à alimentação, transporte e assistência médica foram incluídas em 29% dessas greves. Já a reivindicação por reajuste dos salários ocupou o terceiro lugar de importância nessas paralisações (16%).
Resultado das greves
A maioria das paralisações deflagradas pelos trabalhadores foi solucionada por meio da negociação direta. Em 34% dos casos foi necessário o envolvimento do poder Judiciário.
Das 456 greves (31% do total anual) que o Dieese conseguiu ter informações sobre o desfecho, 76% tiveram o atendimento das reivindicações – 40,8% atendimento integral e 35,3% parcial.
Greves nas estatais
No caso das empresas estatais, o sistema do Dieese cadastrou 73 greves, que paralisaram por 2.249 horas as atividades. Aproximadamente 69% das greves realizadas nas estatais incluíram pautas de caráter defensivo, relacionadas especialmente à manutenção de condições já vigentes.
Os três temas mais frequentes na pauta foram: protestos contra privatizações, reforma Trabalhista e reforma da Previdência (36%); reajuste dos salários (32%); e melhores condições de trabalho (25%).
Das 23 greves de trabalhadores de empresas estatais com informações sobre o desfecho, 78% tiveram alguma das reivindicações atendidas, sendo 30,4% de forma integral e 47,8% parcial.
> Acesse a íntegra do estudo do Dieese