Taxar fortunas de bilionários em 0,5% incluiria 262 milhões de crianças na escola e ainda poderia salvar a vida de mais de 3 milhões de pessoas com pouco acesso à saúde
A distância entre os mais ricos e os mais pobres aumentou ainda mais no ano passado, segundo relatório global divulgado nesta segunda-feira (21) pela Organização Não Governamental Oxfam.
De acordo com o estudo, a fortuna dos bilionários do mundo aumentou 12% em 2018 (cerca de US$ 900 bilhões), ou US$ 2,5 bilhões por dia, enquanto a metade mais pobre do planeta (3,8 bilhões de pessoas) viu sua riqueza reduzida em 11% no ano passado.
O relatório “Bem Público ou Riqueza Privada?”, lançado às vésperas do Fórum Econômico Mundial de Davos, afirma que o número de bilionários no mundo quase que dobrou desde a crise financeira de 2007-2008, saltando de 1.125 em 2008 para 2.208 em 2018. O relatório cita dados da revista “Forbes”, apontando que o Brasil tinha 42 bilionários em 2018, com riqueza total de US$ 176,4 bilhões.
Segundo a ONG, a criação de taxa extra de 0,5% sobre a riqueza dos bilionários que fazem parte do 1% mais rico do planeta arrecadaria mais do que o suficiente para colocar na escola 262 milhões de crianças que hoje estão fora, além de garantir serviços de saúde que poderiam salvar a vida de mais de 3 milhões de pessoas.
“Ao não taxarem apropriadamente os muito ricos e as grandes corporações, e por terem dificuldades orçamentárias para investir adequadamente em serviços públicos como saúde e educação, os governos estão contribuindo para aumentar as desigualdades, prejudicando milhões de pessoas que vivem na pobreza – principalmente as mulheres”, afirma a ONG.
Segundo a Oxfam, os cálculos do relatório são baseados nos dados de riqueza global do Credit Suisse, e a riqueza dos bilionários foi calculada a partir da lista de bilionários da revista Forbes.
Estudo divulgado no final do ano passado apontou que a desigualdade de renda no Brasil parou de cair após 15 anos, e que o número de pobres cresceu em 2017.
“Os governos precisam entender que investir em serviços públicos é fundamental para enfrentar as desigualdades e vencer a pobreza. E para isso é necessário que os mais ricos e as grandes corporações contribuam de maneira mais justa”, afirma Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil, destacando que no país os 10% mais pobres da sociedade pagam mais impostos proporcionalmente do que os 10% mais ricos.
A desigualdade é sexista
O relatório da Oxfam aponta, ainda, a desigualdade de gênero como um dos grandes desafios para combater a desigualdade social no mundo. A maioria das pessoas mais ricas é do sexo masculino. Os homens detêm 50% a mais da riqueza total do que as mulheres, que, em nível global, ganham 23% a menos do que os homens.
A desigualdade de gênero não é acidente nem novidade. Nossas regras econômicas foram escritas por homens ricos e poderosos, em defesa de seus próprios interesses – Relatório Oxfam.
Recomendações
No relatório, a Oxfam apresenta algumas recomendações para os governos e afirma que as lideranças políticas “devem ouvir os cidadãos comuns e tomar medidas significativas para reduzir a desigualdade”.
“Todos os governos devem estabelecer metas e planos de ação concretos e com prazos definidos para reduzir a desigualdade, como parte de seus compromissos com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”.
Esses planos devem incluir ações nas três áreas: proporcionar saúde, educação e outros serviços públicos de forma universal e gratuita, que também funcionem para mulheres e meninas; liberar o tempo das mulheres, reduzindo os milhões de horas não remuneradas que elas passam cuidando de suas famílias e lares, todos os dias; e rever a baixa tributação de empresas e pessoas ricas.
…
Com informações do G1 e da CUT