DIEESE aponta: mulheres com ensino superior têm maior inserção no mercado de trabalho

De maneira geral, as mulheres enfrentam grandes dificuldades no mercado de trabalho, haja vista que ainda representam mais de metade da população desempregada e, quando ocupadas, percebem menores rendimentos do que homens. Não obstante esse tipo de abordagem já ter sido recorrentemente apresentada nos mais diversos estudos, o boletim do DIEESE contribui para que se tenha uma visão sobre a inserção das mulheres mais escolarizadas no mercado de trabalho, haja vista que os indicadores apontam que quanto maior a escolarização, maior é a presença delas nesse mercado.


Outra questão relevante é que enquanto os trabalhadores com menor escolarização se depararam com relações mais precárias de trabalho (assalariamento sem carteira e o trabalho autônomo, por exemplo), os de nível superior ocupam postos de trabalho mais formalizados, especialmente no setor público. Dessa forma, o objetivo do estudo do DIEESE é observar os efeitos da elevação da escolaridade feminina na sua inserção no mercado de trabalho, a partir da base de dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), no biênio 2009-2010, apresentando, inicialmente uma breve caracterização do comportamento do mercado de trabalho local nesse período.


Na Região Metropolitana


A participação da mulher no mercado de trabalho segue estável diante da ampliação masculina O desempenho do mercado de trabalho na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) foi favorável para a inserção produtiva de homens e mulheres, em 2010. Para a população feminina, foram gerados 36 mil postos de trabalho, volume suficiente para absorver a incorporação de 21 mil mulheres à força de trabalho local, o que reduziu o contingente de trabalhadoras desempregadas em 14 mil pessoas. Movimento semelhante foi observado no segmento masculino.


Apesar dessa realidade, cabe ressaltar que a taxa de participação do segmento feminino permaneceu relativamente estável, variando de 50,6% (2009) para 50,9%, em 2010, diante do crescimento da participação masculina nesse mesmo período (de 66,0% para 67,1%), o que sinaliza que a recente dinâmica do mercado de trabalho metropolitano foi ainda mais favorável para os homens. A melhoria do mercado de trabalho local fez com que a taxa de desemprego total diminuísse tanto para homens, de 10,0% (2009) para 8,1% (2010), como para as mulheres, de 12,9% para 11,0%, entre 2009 e 2010.


Nesse período, o contingente de desempregados estimado na região caiu de 194 para 165 mil pessoas, comportamento que foi observado tanto entre os homens (de 91 para 76 mil), quanto entre as mulheres (de 103 para 89 mil). Mesmo com esta redução, cabe chamar atenção que a proporção de mulheres na população desempregada da região se elevou nesse período (de 53,2% para 54,1%), ratificando que as oportunidades de trabalho não foram iguais entre os sexos, uma vez que mais da metade das vagas criadas contemplou o segmento masculino (56,6%), o que fez com que a taxa de desemprego caísse mais rapidamente entre os homens (-19,0%) diante de uma redução na taxa feminina Indicador que mensura a proporção de ocupados e desempregados no total da população em idade ativa.


Em grande medida, tal comportamento pode ser compreendido pela expansão da construção civil na Região Metropolitana de Fortaleza, cuja ocupação é predominantemente masculina. Por outro lado, o crescimento das oportunidades de trabalho para as mulheres foi mais evidente no setor terciário da economia, especialmente no comércio.


A população ocupada na RMF cresceu de 1.512 mil, em 2009, para 1.595 mil pessoas, em 2010, representando um acréscimo de 83 mil ocupações, cuja maior parcela dessas vagas foi gerada na iniciativa privada e com carteira assinada (69 mil), o que, em grande medida, ampliou o nível de formalização das relações de trabalho na região. Há que se destacar também a ampliação do trabalho autônomo (25 mil) – que é bastante representativo na RMF, uma vez que é responsável por mais de ¼ das ocupações do mercado de trabalho local – e a redução do emprego doméstico (-7 mil), haja vista a atividade tradicionalmente ser uma importante e representativa porta de entrada da mão de obra feminina Das ocupações geradas entre 2009 e 2010 (83 mil), 47 mil contemplaram o segmento masculino e 36 mil, o feminino. Estas ocupações, para homens e mulheres, foram criadas, sobretudo, no setor privado e com carteira assinada e entre os autônomos.


Entre 2009 e 2010, a construção civil foi o setor que apresentou maior crescimento (25,8%) diante dos demais segmentos de atividade econômica: indústria (8,9%), comércio (7,4%), agregado outros setores (8,7%) e os serviços domésticos (-5,0%). Tal

desempenho fez com que a participação da construção civil na população ocupada total passasse de 5,9%, em 2009, para os atuais 7,0%. 3 O emprego doméstico é responsável por 16,7% das ocupações femininas, proporção que diminuiu significativamente se

comparada ao ano de 2009 (18,3%), o que pode sinalizar maior mobilidade ocupacional desta mão de obra para outras atividades econômicas. Em 2010, 6 mil mulheres deixaram o emprego doméstico.


No que diz respeito aos rendimentos auferidos pelo trabalho, menciona-se a redução da desigualdade da remuneração do trabalho entre homens e mulheres na RMF, dado que, enquanto o rendimento masculino permaneceu relativamente estável (-0,2%), as mulheres lograram ganho real de 1,6%, entre 2009 e 2010.


Força de trabalho


No jargão dos analistas de mercado de trabalho, a população economicamente ativa também é denominada de “força de trabalho”, haja vista ser a mão de obra efetiva de trabalho, seja na condição de ocupada ou de desempregada. ensino superior estão efetivamente nesse mercado, seja como ocupado, seja como desempregado. Tal realidade é bem evidente especialmente entre as mulheres, visto que, na população masculina, há um pequeno decréscimo da taxa de participação, de 85,7% para 83,9%, entre os trabalhadores de ensino médio completo e superior incompleto, comparativamente aos de nível superior.


Independentemente dessa realidade, deve-se destacar que as mulheres, quando comparada aos homens, enfrentam maiores níveis de desemprego. Aliás, as informações sinalizam que as disparidades entre os sexos são crescentes com a elevação da escolaridade . Por outro lado, quando observada a população ocupada, essa relação entre os sexos é decrescente, o que sinaliza que as mulheres com maior nível de escolarização possuem mais possibilidades de conseguir um posto de trabalho. Observa-se, que o ritmo de crescimento do nível ocupacional feminino foi pouco inferior ao dos homens (5,9% contra 5,0%), entre 2009 e 2010. Especificamente entre os mais escolarizados, cabe mencionar que enquanto diminuiu as oportunidades de trabalho para os homens, entre as mulheres, ocorreu exatamente o contrário, dada a elevação da ocupação para as trabalhadoras de ensino superior, fato que sinaliza mais oportunidades de trabalho para este segmento populacional.


Assalariamento é mais evidente entre os trabalhadores de ensino superior. Do total de 1.595 mil ocupados encontrados na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), em 2010, 136 mil eram trabalhadores com ensino superior (8,6%), sendo 84 mil mulheres e 52 mil, homens. Conforme as faixas etárias, percebe-se que a maior parcela da população ocupada possui entre 25 e 39 anos de idade, característica marcante tanto entre os trabalhadores menos escolarizados (até ensino superior incompleto), como entre aqueles com maior nível de escolarização, independentemente do sexo.


Adicionalmente, destaca-se que a presença feminina entre as pessoas com ensino superior é maior do que a masculina em quase todas as faixas de idade. Do ponto de vista da posição da ocupação, verifica-se que, apesar de o assalariamento ser a forma mais evidente de inserção no mercado de trabalho local, não há dúvidas de que os trabalhadores com menor nível de escolaridade estão mais propícios a se deparar com relações mais precárias de trabalho, tais como: o assalariamento sem carteira, o trabalho autônomo e o serviço doméstico. Assim, enquanto os trabalhadores com menor instrução enfrentam as mais diversas formas de contratação (e até de subcontratação), os de ensino superior tendem a alcançar mais frequentemente as ocupações no setor público, em tese, mais protegidas e reguladas


Os dados apresentados pelo DIESSE apontam que as trabalhadoras com maior grau de instrução são mais representativas exatamente no setor público, haja vista que representam quase 2/3 dessa mão de obra mais escolarizada. Como se sabe, destaca-se o peso da mão de obra feminina nos serviços públicos, especialmente nas ocupações ligadas às políticas sociais (educação, saúde, assistência social, entre outras) em que majoritariamente são ocupadas por mulheres.


A presença dos trabalhadores mais escolarizados no setor público, em grande medida, contribui para maior representatividade desse segmento populacional no setor de serviços, realidade observável em ambos os sexos. Disparidade de rendimento entre os sexos é maior entre os mais escolarizados O rendimento médio dos trabalhadores de ensino superior é cerca de quatro vezes mais elevado do que entre as pessoas com menor nível de escolarização. Em 2010, enquanto o rendimento médio dos ocupados com ensino superior correspondia a R$ 2.490, o dos trabalhadores menos escolarizados ficava em R$ 699. Esta disparidade torna-se ainda mais evidente quando avaliado o rendimento auferido por hora trabalhada, haja vista que os ocupados com ensino superior enfrentam jornadas menores perante os demais trabalhadores (39 contra 44 horas), em que estes ganhos equivaliam, a R$ 3,71 a R$ 14,92


É possível perceber, nos dados apresentados, que a disparidade de rendimento entre homens e mulheres se torna ainda maior entre os trabalhadores com ensino superior, uma vez que, enquanto o rendimento das ocupadas com menor escolaridade equivalia a 71,4% ao dos homens, entre os trabalhadores de ensino superior, esta proporção só alcança, em média, 61,5% do rendimento masculino.


Mais uma vez estão expostas as dificuldades encontradas pelas mulheres no mercado de trabalho, pois, mesmo mais escolarizadas, elas chegam a ganhar ainda menos do que os homens, realidade que ocorre tanto na iniciativa privada, quanto no setor público. Assim, é importante mencionar que, independentemente da posição da ocupação e do nível de escolaridade, as disparidades de rendimento entre homens e mulheres são latentes no mercado de trabalho local, sinalizando a necessidade de maior atenção a esta questão.
Fonte: Fetamce


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